26/08/2024
Seja na maneira como interagimos com a tecnologia ou aplicamos a criatividade aos desafios corporativos, a inovação está sempre presente no nosso cotidiano. No caso de Thais R. Anauate, Head de Inovação da Ambev, o ponto de partida foi quando ela identificou um potencial de inovação corporativa na jornada do consumidor.
Na época, Thais trabalhava em uma grande fabricante de tintas imobiliárias, e atuando na área de Gerenciamento de Canais da empresa, começou a expandir o relacionamento da organização com vários canais de venda, incluindo construção civil, home centers, distribuição e revenda.
Compreendendo os diferentes canais e estudando a jornada do consumidor mais profundamente, Thais descobriu que, embora complexa e desafiadora, a jornada oferecia grandes oportunidades para inovação corporativa.
“Minha entrada no mundo da inovação aconteceu de forma bastante orgânica. Eu comecei a reparar e a questionar mais: em quais outros canais nós podemos vender nossas tintas? Além de estabelecer parcerias para desenvolver novos serviços e produtos digitais junto a startups que pudessem melhorar a experiência na jornada do consumidor. Essas ideias começaram a surgir e projetos a saírem do papel. A Diretora da época criou a área de Inovação Aberta e Novos Negócios e me convidou para liderá-la. Desde então, eu nunca mais saí da inovação. É a minha grande paixão”, conta ela.
A partir disso, a área de inovação passou de uma estrutura segmentada para uma abordagem muito mais organizada e madura. Sobre isso, Thais relembra:
“Anteriormente, não havia uma estrutura ou estratégia definida por trás, então eu assumi a responsabilidade de desenvolver um relacionamento com o ecossistema de startups e construir programas que, no final, contribuíssem para novos negócios de inovação”.
Uma das primeiras impressões de Thais sobre as práticas de inovação foi de que o conceito não deveria ser restrito a apenas uma área específica. Ela acreditava que a inovação precisava ser disseminada por toda a corporação.
“A área de inovação não deve ser um silo isolado dentro da empresa, com uma equipe específica dedicada exclusivamente à inovação. Acredito que todos podem contribuir: eu com serviços e produtos; a equipe de sustentabilidade; e até mesmo o pessoal de vendas. Por isso, essa foi minha primeira impressão: por que a inovação não está disseminada por toda a companhia?”
Aprimorar o relacionamento com startups e planejar estratégias para tornar esse relacionamento mais fluido, com processos bem definidos, foi outro fator decisivo para o avanço da inovação e a evolução da sua própria carreira.
“Foi necessário revisitar a estratégia. Precisávamos definir objetivos claros, entender o que queríamos alcançar e como agregar valor. Foi um trabalho de engajamento de stakeholders: envolver o jurídico, a área de compras, e entender como poderíamos aumentar a confiança das startups e simplificar os processos para realizar projetos piloto mais rápidos e eficazes. Foi árduo, mas valeu a pena para trabalharmos de maneira mais fluida”.
Atualmente, Thais compara a maturidade de inovação de quase cinco anos atrás e realça a importância da cultura e o apoio da liderança nas empresas.
“Vejo uma maturidade maior para inovação, empresas descentralizadas e empoderando pessoas a desenvolver e testar. Muitas empresas ainda precisam de uma área para estruturar e viabilizar os programas, lançar desafios, dar suporte, se conectar com o ecossistema e pensar na questão da visibilidade, mas também é preciso dar mais independência e autonomia para os times”.
E completa:
“Como uma pessoa de negócio, se eu quiser entrar em contato com uma startup e começar um processo de inovação, tenho autonomia, já é algo muito natural. Mas é claro que também tem a questão do mindset, que é impossível não falar de cultura e maturidade. Muitas pessoas têm a segurança psicológica de testar, errar, aprender, refazer; claro, com responsabilidade, e se perguntar: qual o tamanho do risco e esforço para as coisas fluírem?”.
Refletindo sobre as mudanças que ocorreram na inovação desde que começou a trabalhar na área, Thais destaca o avanço das novas tecnologias. E, como termos que antes pareciam distantes, agora são comuns em cases de sucesso de grandes corporações. Ela ainda menciona a maior flexibilidade no período pós-pandemia e os compromissos com a diversidade como aspectos importantes dessa evolução.
“Eu percebo que as áreas estão tentando ser mais diversas e flexíveis. E eu acredito que isso favorece o cenário de inovação. Quando as pessoas estão mais abertas, isso cria um ambiente mais propício, especialmente quando estamos imersos na rotina. Com essa flexibilidade e a valorização das diferenças entre as pessoas, ganhamos espaço para oxigenar as ideias e a inovação surgir.”
Para empresas que estão começando ou ainda não possuem uma área dedicada à inovação, Thais também compartilha sua visão e oferece dicas valiosas para que elas possam avançar em termos de maturidade.
“Falando sobre maturidade, o principal fator é a cultura mesmo. Tem que vir de cima. Se o C-level não compra, não cascateia isso muito bem, não deixa claro quais são os objetivos da empresa, quais são os pilares de inovação que ela quer trabalhar, fica muito difícil! Além de sponsors de alto nível, que comprem e endossam os projetos. Por fim, mostrar os quick wins da inovação, as pequenas conquistas e avanços para manter o engajamento”.
Thais destaca que o engajamento é crucial, especialmente em projetos de médio a longo prazo, uma vez que todas as organizações demandam resultados. Ela também enfatiza a importância de estabelecer conexões com outras empresas e de participar de eventos da comunidade de inovação.
“Relacionar-se com outros players e entender que todos estão no mesmo barco, compartilham dos mesmos desafios, trazer o benchmark e mostrar que empresas do mesmo porte já fizeram algo similar e deu certo, é importante para quem está começando”.
Fora isso, esses relacionamentos podem abrir portas para projetos colaborativos, não apenas com startups, mas também entre diferentes indústrias. Ao iniciar tais iniciativas, ambas podem criar parcerias valiosas, beneficiando-se mutuamente e fortalecendo suas conexões.
Para Thais, a distância entre as áreas também não deve se tornar um obstáculo. Por isso, é essencial trabalhar com squads multifuncionais e metodologias ágeis. Com essas práticas, equipes com empresas localizadas em diferentes locais ou trabalhando de forma remota podem se comunicar diariamente e colaborar de forma integrada desde o início do processo.
Neste contexto, uma das metodologias ágeis citadas e utilizadas por Thais é o Double Diamond. Esse modelo de design baseado no Design Thinking é amplamente aplicável em negócios, inovação e desenvolvimento de novos produtos. Ele se destaca como uma ferramenta essencial para estruturar e orientar o trabalho, desde a formulação da estratégia até a execução de projetos piloto com foco no consumidor.
“Envolve quatro etapas principais: descoberta, design, desenvolvimento e lançamento. Essa abordagem permite entender melhor as necessidades dos consumidores, explorar diversas soluções, validar hipóteses e iterar rapidamente até chegar a uma solução final em uma estratégia de go to market com KPIs bem definidos”, finaliza.
Assim, a combinação de squads multifuncionais e metodologias ágeis como o Double Diamond não apenas supera as barreiras de distância, mas ainda garante um processo de inovação corporativa muito mais eficaz e consistente.