Publicado em 07 de maio de 2021.
Tempo de leitura: 7min.
É por conta da relevância do tema que apresentamos a seguir um guia sobre o que é inovação aberta, quais os tipos e possíveis relacionamentos que podem ser estabelecidos com startups, negócios sociais, universidades e outras instituições, além de dicas e passos para implementar um programa na sua empresa.
Quer saber por onde começar? Acompanhe o texto a seguir.
Inovação Aberta versus Inovação Fechada
Em 2003, o professor Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley e diretor executivo no Centro de Inovação Aberta, lançou o livro “Inovação Aberta: Como criar e lucrar com a tecnologia”.
Chesbrough cunhou o termo “Inovação Aberta” e de acordo com o mesmo, a inovação fechada, representada principalmente pelo esforço de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) das grandes empresas, era a estratégia dominante quando se falava de esforços em inovação nas grandes empresas. E parte disso se dava pela necessidade de controle de todas as etapas do processo – até porque um vazamento de informações poderia colocar em risco a inovação.
Basicamente todo o controle da inovação era feito pela empresa: desde a geração de ideias, passando por testes, desenvolvimento, produção e comercialização de uma solução final. Grandes empresas como DuPont, IBM e AT&T tinham controle de toda a cadeia de pesquisa e desenvolvimento e investiam bilhões de dólares anualmente nessas atividades.
Como consequência desse modelo fechado, apenas ideias que têm um potencial maior de comercialização prosperam. Ideias que não apresentam potencial para se tornar um produto ou serviço lucrativo são abandonadas. Nesse modelo, possíveis ideias de inovação que possam gerar bons frutos para a empresa não são levadas à frente.
Três transformações tiveram um impacto profundo nas atividades de P&D das empresas a partir dos anos 2000:
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- o avanço das tecnologias da informação e comunicação (TICs);
- a mobilidade de profissionais das áreas de pesquisa e outras áreas intensivas em conhecimento;
- e disponibilidade crescente de capital de risco privado (private venture capital).
Essas transformações geraram uma fuga de cérebros de muitas empresas que passaram a explorar ideias promissoras em pequenas empresas que adotavam cultura ágil. Então, aos poucos as grandes empresas passaram a enxergar uma relação benefício-custo cada vez menor em manter uma área de P&D própria.
E foi observando esse movimento que as grandes empresas passaram a investir menos em suas atividades internas de P&D e começaram a explorar parcerias com startups e outros agentes que poderiam impulsionar suas atividades de pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de acelerar seu processo de inovação.
A maior diferença entre a inovação fechada e a inovação aberta é que na primeira, todo o processo de ideias, investigação, elaboração e desenvolvimento do produto ou serviço é feito exclusivamente com colaboradores e recursos internos.
Por outro lado, na inovação aberta parte do processo pode ser absorvido de recursos externos. Com isso, a eficiência do processo de inovação aumenta, como são os casos de parcerias com startups.
Quais os tipos de inovação aberta?
Podemos classificar inovação aberta em três tipos:
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- Inovação aberta de entrada (inbound): quando acontece o mapeamento de empresas, tecnologias e ideias externas que podem ser uma oportunidade de solução de um problema interno de um produto ou serviço ou até mesmo uma nova oportunidade de produto para ser lançado no mercado;
- Inovação aberta de saída (outbound): neste formato, em vez de explorar oportunidades externas, a elaboração de ideias e geração de oportunidades acontece internamente, no ambiente interno da empresa. Só após essa etapa que acontece o mapeamento de parceiros externos para validar o projeto;
- Inovação aberta mista (coupled): este formato, por fim, é caracterizado por um trabalho mais próximo com os parceiros externos a partir da cocriação. É o meio termo entre inbound e outbound.
O primeiro tipo, a inovação aberta de entrada, tem sido vastamente utilizada por empresas que iniciaram suas atividades de venture capital. A ideia aqui é realizar um processo de busca e seleção de startups e outros parceiros, de acordo com a estratégia de inovação. Neste caso, o foco é buscar propostas inovadoras para alavancar a empresa, sem necessariamente ter casamento total com os desafios de negócio.
No segundo tipo, a inovação aberta de saída, a proposta é diferente. Aqui, os líderes da empresa se reúnem, mapeiam seus desafios e só quando estes desafios estão claros é que a busca por startups ou outros parceiros tem início. A correspondência aqui é feita entre o desafio da empresa e a startup que apresenta a melhor solução para resolver esse desafio.
Por fim, a inovação aberta mista traz elementos de entrada e saída. Nós já aplicamos este modelo junto a grandes empresas como MAPFRE, Leroy Merlin e Mastercard. A ideia deste tipo de inovação aberta é encontrar o ponto de equilíbrio entre a busca de startups para solucionar desafios da empresa, o alinhamento estratégico e inovações mais disruptivas.
Quais os tipos de relacionamento em inovação aberta?
Com os tipos de inovação aberta em mente, existem diversos caminhos para implementar programas que buscam a conexão com startups e outros negócios. A inovação aberta depende de onde estão concentrados os esforços de mapeamento dos desafios e em qual momento os parceiros externos começam a atuar junto à empresa. E, por isso, é preciso conhecer os principais tipos de relacionamento para poder escolher qual caminho mais adequado para a sua empresa.
Para auxiliar nessa escolha, há uma matriz desenvolvida pelo britânico Roland Harwood que organiza os tipos de inovação aberta a partir da correlação entre duas variáveis, sendo elas o grau de abertura e o estágio de inovação.
No eixo X, temos o grau de abertura que é dividido em 3 níveis distintos:
- Open inside: ideação interna, envolvendo apenas funcionários da empresa;
- Outside in: ideias terceirizadas para resolver problemas ou melhorar os recursos existentes;
- Inside out: compartilhar ideias e propriedade intelectual com o exterior para criar de forma colaborativa novas oportunidades de negócios.
No eixo Y, por sua vez, temos o estágio de inovação, que consiste nos seguintes níveis:
- Explore: mapear as necessidades não atendidas do cliente, reunindo insights;
- Extract: colaborar com outras pessoas para construir e desenvolver ideias sobre as necessidades não atendidas;
- Exploit: criar planos de negócios viáveis com base nas ideias desenvolvidas que mostram potencial.
Ao cruzar os três graus de abertura e os três estágios de inovação, este framework fornece 9 tipos ou métodos diferentes de inovação aberta, representados na matriz abaixo:
Open Inside |
Inside In |
Inside Out |
|
Explore |
Colleague crowd |
Escuta social |
Ecossistema de inovação aberta |
Extract |
Laboratório de inovação |
Comunidade de co-criação |
Programa de aceleração |
Exploit |
Programas de intraempreendedorismo |
Crowdsourcing |
Desafio de Inovação Aberta |
O que é o desafio ou programa de inovação aberta?
De acordo com a classificação proposta por Harwood, os desafios ou programas de inovação aberta são os casos mais extremos desta abordagem para inovação. Uma vez que o desafio ou programa de inovação aberta é um dos tipos mais buscados e difundidos de programas de inovação nas grandes empresas, vamos nos atentar a ele.
Um programa de inovação aberta é uma espécie de competição onde pessoas, startups ou outras organizações se reúnem para criar ideias em torno de um desafio específico, um problema compartilhado por muitos ou uma área de melhoria.
Esses desafios podem ser organizados como empreendimentos de tamanho e tempo limitados que consistem apenas na fase de solução (quando o problema está claro) ou nas fases de solução e problema (quando o problema também deve ser definido).
Comumente, as grandes empresas acionam aceleradoras de inovação corporativa e impacto socioambiental como a Worth a Million (WaM) para auxiliar na definição e divulgação do desafio que será alvo do programa, bem como no recrutamento e seleção de startups, negócios sociais ou outras organizações que possam prover ideias, protótipos ou soluções para os desafios mapeados. Nós abordamos mais essa temática aqui.
Um programa de inovação aberta é a solução perfeita para empresas que desejam obter soluções para problemas específicos que requerem insights de especialistas da área ou soluções que já passaram por algum grau de validação de mercado.
Além disso, a grande vantagem dos programas de inovação aberta é sua escalabilidade e velocidade, o que os torna uma ferramenta útil para empresas que trabalham em um limite de tempo ou em um campo muito específico.
Dicas para um programa de inovação aberta bem sucedido
Dito isto, além de contar com um parceiro com expertise em programas de inovação aberta, alguns pontos são fundamentais e devem ser considerados para realizar um programa bem sucedido. Aqui no país, um documento de referência bastante utilizado é o guia de Boas Práticas de Conexão Startup Indústria, produzido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.
Os pontos-chave são:
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Definição de Diretrizes: antes de iniciar qualquer ação, a recomendação é de que as lideranças da empresa e responsáveis pelos processos de inovação se reúnam para definir as estratégias para executar o programa de inovação aberta, quais os caminhos serão adotados, quem serão os responsáveis, qual o budget disponível, quais objetivos serão perseguidos e quais metas precisam ser atingidas. Também é fundamental nesta etapa que a empresa defina qual o perfil de startups que serão recrutadas;
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Planejamento: definidas as diretrizes, o próximo passo do fluxo de inovação aberta é a definição do caminho a ser adotado para se conectar com startups, bem como definir cronograma e quais atividades serão executadas. Nesta etapa, contar com um parceiro é um diferencial para o sucesso do programa;
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Conexão: processo operacional da conexão com startups, através das fases de recrutamento, seleção, prova de conceito (PoC) e/ou piloto. Com base na definição de diretrizes e no planejamento, a governança do projeto é um grande determinante do sucesso do projeto;
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Avaliação: por fim, com base nos objetivos e metas definidos no início do programa, as atividades são encerradas com uma avaliação adequada. É fundamental nesta etapa de avaliação identificar barreiras e lições aprendidas. Além disso, divulgar os resultados obtidos para toda a empresa. Faz-se também análise de novas oportunidades e ajustes para novas rodadas do programa.
Com isso em mãos e um parceiro experiente ao lado, você será capaz de estruturar um programa de inovação aberta que traga bons resultados para a empresa.
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